Três perguntas sobre o horário estendido do Metrô por causa de jogos de futebol

Imagem de Lucas Chiconi
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Uma reunião no final do mês passado, entre dirigentes do Corinthians e representantes do Metrô e da Secretaria de Transportes Metropolitanos, definiu que algumas estações vão operar até mais tarde em dias de jogos noturnos.

A medida, que visa atender aos torcedores, valerá não apenas para corintianos, mas também para torcedores de outros clubes que mandarem jogos às 22h, horário determinado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a pedido da Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão dos principais torneios de futebol do país.

A ideia e que os portões das estações próximas aos maiores estádios da cidade sejam fechados somente à meia-noite e meia do dia seguinte. Dessa forma, nos dias de jogos em Itaquera marcados para 22h, a estação Corinthians-Itaquera fecharia mais tarde. O mesmo valeria para Palmeiras-Barra Funda, quando a equipe alviverde jogar nessas condições, e Butantã, nos dias de jogos do São Paulo no Morumbi.

Essa decisão carrega consigo diversas polêmicas. A primeira, levantada pelo promotor Marcelo Milani, se refere ao caráter mais ou menos justo da medida. Milani lembra que, como prestador de serviço público, o Metrô deve tratar os usuários de forma igual, sem privilégios, o que nos leva a um primeiro questionamento:

Por que estender o horário do Metrô para atender exclusivamente torcedores?

A parcela de pessoas que costumam ir a estádios é irrelevante, quando comparada à população total da capital (mais de 11 milhões de pessoas) ou da região metropolitana (quase 20 milhões). Quem vive em São Paulo sabe que, muito além de torcedores, a cidade tem uma vida noturna intensa, ligada não apenas a lazer, mas também ao trabalho, com milhares de pessoas que cumprem turnos na madrugada. Trabalhadores, turistas e baladeiros, por exemplo, merecem menos o Metrô aberto que aqueles torcedores?

O segundo questionamento é econômico. Qualquer minuto a mais de funcionamento em um sistema sofisticado, com uma estrutura enorme de funcionários como a do nosso metropolitano, com o gasto de energia elétrica necessário para a operação não custa barato.

Afinal, quem paga pelo horário estendido do Metrô?

Por enquanto, as respostas do Metrô foram evasivas. Em nota enviada ao Portal G1, a assessoria de imprensa não detalhou o custo extra do horário estendido (promete divulgar o cálculo até o próximo dia 22), mas informou que os gastos seriam compensados pelo aumento de bilhetagem.

A afirmação é leviana, para dizer o mínimo. É impossível garantir que a maior bilhetagem vá cobrir os custos da operação estendida, simplesmente porque não se sabe qual será o público total. Dizer que todos os jogos de todos os clubes recebem a capacidade máxima dos estádios é risível, para quem acompanha a decadência de nossas equipes e campeonatos.

Além disso, como definir qual parcela desse público terá descontos no Metrô? Como dizer qual parcela de torcedores, por exemplo, é composta de aposentados, que vão pagar zero pela tarifa?

O mesmo promotor do MP, Marcelo Milani, sugere que a conta fique para os clubes, por serem os maiores beneficiados (em tese, o horário estendido pode atrair mais gente aos estádios).

A terceira pergunta sobre o assunto, talvez a mais angustiante, se refere ao futuro e ao precedente aberto com essa medida do Metrô:

Como o governo vai tratar demandas semelhantes?

“Se clubes e torcidas podem, por que não eu?”. A pergunta passa pela cabeça de muita gente, incluídos sindicatos de classe. Só para ficar em exemplos mais evidentes, o horário estendido do Metrô poderia beneficiar milhares de porteiros, garis e feirantes de São Paulo, se valesse para todos os dias.

Se o Metrô atendeu à demanda de clubes de futebol, o que faria com o pedido de outras instituições representativas? O precedente está aberto e pode repercutir inclusive juridicamente.

Em um cenário pessimista, podemos imaginar uma Torre de Babel jurídica, com uma enxurrada de processos, referentes a pedidos para que o Metrô atenda determinados segmentos da sociedade em horários diferenciados.

As respostas, dessas e de tantas outras perguntas, cabem ao Metropolitano de São Paulo.

Pedro Craveiro é jornalista, paulistano, aficionado pela cidade, por mobilidade e pelo transporte público.