A insatisfação sobre o risco real que São Paulo correu em 2004 de ver o seu sistema de trólebus acabar, o gosto pelos transportes e ideais em prol de um meio ambiente melhor, com menos poluição, foram os elementos que uniram neste ano um grupo de técnicos, estudiosos e entusiastas.
O meio para que todas as pessoas com interesse em comum pudessem ampliar seu círculo de conhecimento, amizades e discussão foi a internet.
O Grupo Defesa do Trólebus surgiu oficialmente nas redes sociais em 19 de setembro de 2005, ainda na época que o Orkut era um dos principais sites de relacionamento.
Para comemorar os nove anos de existência, entusiastas, técnicos formados na área de transportes e estudiosos do setor que formam o grupo, realizaram neste sábado, dia 20 de setembro de 2014, um encontro na garagem da Metra – Sistema Metropolitano de Transportes Ltda., empresa que opera ônibus, trólebus, ônibus elétrico com baterias e ônibus elétricos híbridos no Corredor Metropolitano ABD, que liga São Mateus, na zona Leste de São Paulo, ao bairro do Jabaquara, na zona Sul, pelos municípios de Santo André, Mauá (Terminal Sônia Maria), São Bernardo do Campo e Diadema, no ABC Paulista, além da extensão entre a cidade de Diadema e a Estação Berrini, da CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, na zona Sul de São Paulo.
Muitos grupos de redes sociais surgem com uma determinada moda ou movimento, mas logo depois acabam ou caem no esquecimento. O segredo para que o “Defesa do Trólebus” conseguisse chegar a nove anos, mesmo com a mudança das plataformas nas redes sociais, é que os integrantes não se limitaram às discussões confortáveis dentro de casa pela web, mas foram à luta, inclusive com reuniões na Câmara Municipal de São Paulo e na Secretaria Municipal de Transportes para que o sistema de ônibus limpos na cidade, que chegou a estar entre os maiores do mundo, não desaparecesse, como explica o presidente do Defesa do Trólebus, Marcos Galesi.
“O Grupo Respira São Paulo, que sempre defendeu um transporte que ofereça qualidade e ao mesmo tempo respeite o meio ambiente, é formado por estudiosos e pessoas engajadas nesta causa. Em 2004, seus membros, entre eles eu, se indignou com o desmantelamento do sistema de ônibus não poluentes na cidade de São Paulo. Nesta época, várias linhas tinham sido desativadas. São Paulo chegou a ter mais de 500 quilômetros de rede de para os veículos elétricos e 555 trólebus. Tudo isso estava acabando e resolvemos reagir” – relembra Marcos Galesi.
Na época, a rede social em evidência era o Orkut. Galesi disse que não teve dúvidas em criar um perfil.
Como esta é uma das características da internet, atrair pessoas com idéias e objetivos comuns, mesmo que fisicamente distantes, logo o Grupo Defesa do Trólebus passou a despertar a atenção de pessoas que também não concordavam com a redução da rede de ônibus não poluentes na cidade de São Paulo.
Foi o caso de Jahir Zanetti Júnior, membro atuante do grupo. “Comecei a ver notícias a respeito das desativações das linhas de trólebus. Sempre admirei este sistema por saber que ele tem um custo viável de operação, oferece conforto aos passageiros e não emite poluentes em sua operação. Pesquisando na internet encontrei o Defesa do Trólebus e não tive dúvidas em participar” – conta Zanetti.
Assim, as discussões pela internet se converteram em audiências com vereadores e autoridades na área de transportes, como explica outro membro do Defesa do Trólebus, Ricardo Salzano Milani. “Mostramos o quanto a população estava insatisfeita com o risco do fim dos trólebus em São Paulo e a força desta população unida. Foram várias reuniões. Iam acabar com a garagem do Tatuapé (de trólebus, na zona Leste de São Paulo) e fizemos barulho, mas tudo no campo do debate, da reivindicação e com argumentos técnicos em defesa do trólebus” – relembra Milani.
Marcos Galesi relembrou que em 2006, após reivindicações, reuniões e apresentação de estudos, uma das conquistas de quem defende a mobilidade limpa foi inclusão em editais públicos da obrigatoriedade da compra de 140 trólebus novos para a cidade de São Paulo.
A conclusão desta meta demorou, mas o número foi até mesmo superado. Hoje a cidade de São Paulo não tem mais os 555 ônibus elétricos, são 201. Antes de todo o trabalho em prol da manutenção da rede que restou e da renovação dos veículos, eram 192 trólebus.
Além do “Respira São Paulo” e do “Defesa do Trólebus”, a causa em prol da mobilidade limpa começou naquela época a contar com um blog informativo que hoje é um portal referência de notícias na área o Via Trólebus, de Renato Lobo , que além de ser entusiasta é técnico na área de transportes: http://viatrolebus.com.br/
Atualmente, o “Defesa do Trólebus” está no Facebook.
Empresas assimilam a importância das redes sociais
Em qualquer ramo de negócios, é necessário estar atento aos movimentos, tendências e anseios do público.
Isso ocorre desde os primeiros empreendimentos, principalmente no período pós Revolução Industrial, que teve início no século 18, na Inglaterra.
Como o mercado ganhava mais força em relação aos poderes políticos e eclesiásticos da época, mesmo que num processo lento e gradativo, cada vez mais o conceito de “cliente” dominava a visão dos negócios.
Para crescer, total ou parcialmente, o cliente deveria ser atendido, mas, para isso, antes era preciso ouvi-lo de alguma maneira.
Hoje, as redes sociais ganharam destaque em expressar, mesmo que de forma ainda não completa e fiel, as necessidades do cliente e da população. Atualmente, as empresas que não se atentam a estas redes, mesmo nos ramos mais conservadores como os transportes, podem estar perdendo oportunidades e terreno.
É equivocado dizer que a população e as empresas prestadoras de transportes possuem interesses distintos. É claro que pode haver em alguns momentos objetivos ou prioridades diferentes, mas transporte de qualidade, que não seja alvo de reclamações constantes que possam denegrir a imagem do operador e do gestor público, é um alvo em comum entre a população, técnicos, mundo acadêmico e bons administradores governamentais e bons empresários de ônibus.
Assim, a empresa de transportes que se preocupa em ouvir o cliente, que é o passageiro, e não só ouvi-lo, mas se comunicar com ele, acaba colhendo benefícios para seu próprio negócio e operação.
O coordenador da área de comunicação da Metra, empresa visitada pelo grupo Defesa do Trólebus, Thiago Terci, explica que a colaboração dos passageiros e de grupos em redes sociais é essencial para a marca da empresa e para a prestação de serviços. “Movimentos como o Defesa do Trólebus, busólogos (pessoas que admiram ônibus) e entusiastas pelas redes sociais ajudam a divulgar o trabalho que a empresa faz, principalmente dentro da garagem e que não é conhecido pelos passageiros para que os serviços venham ser prestados com qualidade. Além disso, este público é diferenciado porque tem a visão do passageiro e também de quem gosta e entende do assunto. Assim, as reclamações e sugestões que recebemos são bem embasadas e contribuem muito para a melhoria dos serviços” – conta Terci.
A Metra não se limita, no entanto, a receber as opiniões nas redes sociais. A empresa decidiu investir em comunicação. Além de assessoria de imprensa e setor de marketing, a Metra conta com perfil oficial no Facebook, Twitter e um canal no Youtube.
O “Metra TV” coloca no ar todas as sextas-feiras reportagens sobre transportes, meio ambiente e o trabalho específico da companhia de ônibus e trólebus. Os vídeos podem ser conferidos no site da empresa, que também passou recentemente por processo de modernização: http://www.metra.com.br/
“Encontros como este são vistos pela Metra como importantíssimos para aproximar a empresa do público. Incentivamos a participação da população e mostramos para os passageiros o que fazemos em prol da melhoria dos transportes, sempre dispostos a ouvir novas opiniões. Neste encontro contamos com pessoas que, claro, adoram ônibus, mas há também aqueles que se identificam também com as ações ambientais e sociais da empresa” – disse Thiago Terci.
A visita possibilitou que os entusiastas tivessem acesso a áreas da empresa como o CCO – Centro de Controle Operacional, onde pelo GPS dos ônibus e por telões, profissionais acompanham em tempo real a prestação de serviços, manutenção, funilaria, e obviamente, aos veículos, tanto os modernos como os históricos que a empresa mantém no acervo e utiliza para o treinamento de funcionários.
E como rede social e comunicação são os assuntos, o encontro também teve a participação de estudantes de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo que se impressionaram com o engajamento do Grupo Defesa do Trólebus e o trabalho interno que é realizado por uma empresa de ônibus, inclusive na área de marketing.
Com as informações de Adamo Bazani – Blog Ponto de Ônibus
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